sexta-feira, 15 de julho de 2011

Notas rápidas 5

POSTAGEM. Berto. Robersonn Jhones, NOGUEIRA.


    Com a parada gay em foco e aquela tal de marcha para jesus que aconteceu ao mesmo tempo, algumas questões estão aparecendo com bastante frequência. De um lado manifestam a pluralidade dos homens e pedem que a homofobia seja considerada crime. Do outro, defendem a família, a perpetuação da espécie e a liberdade de expressão. Os argumentos que essa última parte usa não poderiam ser mais furados, e são repetidos como um disco quebrado:

    1 - "Querem criar um terceiro sexo"
    Não existe um terceiro sexo e nunca existirá. Somos homens ou mulheres. O que seria esse terceiro sexo que tanto se referem? O sexo dos gays, talvez? Eu sei que nasci com um pênis e isso me faz homem, nada mais, nada menos. Quem se refere a um terceiro sexo quer causar confusão com orientação sexual, que existem infinitas, e não 1, 2 ou 3.

    2 - "Querem acabar com a liberdade de expressão"
    Senhores, definam liberdade de expressão antes de dizer que queremos acabar com ela. Você pode dizer o que quiser, todas as bobagens possíveis, contanto que arque com as conseqüências depois. Você pode chegar numa favela e gritar que todos são macacos. Pode chamar um homossexual de doente. Pode tudo. Isso é o direito à liberdade de expressão. Só lembre-se que todas as pessoas tem o direito à honra e a sua liberdade de expressão não pode interferir no direito à honra das pessoas. Porque os senhores já sabem, todos os brasileiros são iguais, independente de qualquer coisa. É esse direito a honra que queremos defender e não o fim da liberdade de expressão.

    3 - "Querem direitos especiais"
    Não tínhamos direito a pensão, a casamento, a adotar, etc etc. Em outras palavras, éramos cidadãos que pagam os impostos e mesmo assim não tínhamos garantidos os direitos básicos ou respeito. Ainda dizem que estaremos sendo privilegiados com direitos especiais, pela aprovação da lei anti homofobia. É sério isso?

    Agora a defesa da família....
    É muito fácil de perceber o padrão das pessoas que dizem que família é com um homem e uma mulher. Semana passada, assistindo à entrevista do juiz Vilas Boas no Fantástico, aquele que anulou a decisão do Supremo Tribunal Federal de reconhecer uniões estáveis entre pessoas no mesmo sexo, percebi que ele usou esse mesmo discurso de que família só poder existir com um homem e uma mulher. Isso tem tocado mais do que a música da piriguete, no carnaval de 2007.
    Ora, meu juiz, numa relação entre homossexuais também repousa o amor e respeito mútuo, assim como o desejo de viver como uma unidade, ser parte do estado e gerar descendentes, nada de diferente da família "normal". Por que isso não pode ser considerado uma família? 
    Eis que ele respondeu. "Por que não são capazes de gerar descendentes. Se fizermos um experimento com um grupo de 10 homos isolados numa ilha, o estado não se sustentaria por uma geração".
    Então senhor juiz, casais com dificuldade para engravidar não podem ser considerados uma família? 
    Se não vivêssemos numa sociedade tão preocupada com moralismos fúteis, casais gays poderiam ter descendentes genéticos através da clonagem. Mas isso nos daria o direito de sermos chamados de família e o senhor juiz teria que achar outro argumento para atrapalhar a nossa vida. Sem falar que muitas família "normais" por aí, essas sim, não deveriam ter nem o direito de ter filhos, dada a negligência e maus tratos com que criam seus filhos. Esses que constituem família porque tem que ser assim, para dar satisfações a sociedade quando não tem a mínima vontade de casar ou virar pai, enquanto nós lutamos por essas oportunidades.

    Não foi surpresa, mas também achei tendencioso da Globo mostrar a relação do juiz com uma igreja. Mas falando no assunto, acho que todas as igrejas estão usando esse discurso de família para atacar os homossexuais. A campanha da fraternidade da católica essa ano também é sobre a família. Até que ponto deixaremos as convicções e influências religiosas afetarem a vida da sociedade, que, em teoria, não deveria depender de religiões? 

    Se o congresso fosse legislar de acordo com uma religião, seja no brasil a católica, as outras religiões sairiam prejudicadas, e vice versa. Quando o Brazil se tornou república em 1889, decidiu-se que, para evitar a fadiga, o estado e a igreja seriam duas coisas separadas, e não uma teocracia, como acontece no Irã. Os documentos deixariam de ser emitidos e armazenados nas igrejas, como era feito até então, e esse seria um papel do estado. No Irã, o presidente eleito pelo voto popular - ou por fraude - ainda não é o líder político máximo no país, mas sim o aiatolá, líder supremo político e religioso. Então, eu como ateu, não me sentiria bem num país que vivesse baseado naquele livro 'sagrado', em que as leis são feitas de acordo com os costumes tradicionais da religião.

    Por isso, senhores, quando discutirem sobre qualquer coisa, limpem a arena e estejam certos que Deus não aparecerá. No ensino médio, nas minhas aulas de filosofia, meu professor dizia que se Deus for trazido à discussão, esta se encerra. Ninguém pode afirmar que uma coisa é certa por que Deus quis e mesmo se Deus existir ninguém é capaz de se comunicar com ele. Estaríamos voltando à Idade Média, onde os camponeses conseguiam explicar tudo o que acontecia no mundo com um simples argumento, e esperar por dias melhores com uma única aspiração: "Se Deus quiser".

    Para mencionar Deus, primeiro convença teu discutinte de que ele existe. Caso contrário, atenha-se ao racional e palpável, não a mitos. Deus é um mito, quase um papai noel para adultos. Mitos são fertilizantes de superstições, religiões, medo e, por fim, controle. Isso, porém, causa um reboliço muito maior em adultos quando são ditos que Deus não existe do que em crianças quando descobrem que papai noel não existe. 

    Mas não criei esse blog para discutir religião nem para divulgar minhas idéias e frustrações com ela. 

    É muito pessoal, cada um tem a sua e mudar a cabeça de alguém que tem opinião formada (ou que tenha Deus no coração) é quase impossível, só trás frustrações. Como dito, é pessoal. Por isso não gostaria de ver crucifixos em repartições públicas, em escolas e tudo mais. Isso me ofende. E eu tenho o direito de não ser ofendido - a não ser que eu seja privilegiado demais. É como se os cristãos vissem um crucifixo dependurado de ponta cabeça. Vocês podem sentir minha frustração?

6 comentários:

  1. É... modelos são complicados no nosso caso. Eu ainda creio que nós temos alguns. Todos eles com seus problemas, mas ninguém é perfeito.
    Posso citar o Ricky Martin. Talvez é um exemplo complicado, digamos por ter saído do armário depois de tanto tempo, mas se pensarmos na sua posição enquanto homem, do modo que se comportar como tal, a sua paternidade e a escrita de sua autabiografia, o tenho como exemplo sim. A Ellen também foi um grande exemplo! Ela é fantástica! Um que gosto bastante é o Neil Patrick Harris. Enfim, há vários!
    Continuo curtindo seu blog. Você escreve muito bem e sabe disso! Abraços!

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  2. Bom, alguns, mesmo que estrangeiros: Ricky Martin, Ellen DeGeeneres, Sir. Ian McKellen, Rupert Everet, o vocalista do R.E.M., Ana Carolina (é brasileira), Léa T. (também)

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  3. Modelo realmente, creio não ter.
    É meu primeiro post no seu blog, ja leio à um tempo e adoro.
    Retomando, eu tento como você disse, ser meu próprio modelo, creio estar me saindo bem, cometendo erros assim como todos é claro.
    Abraço

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  4. Ney Matogrosso gente!!

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  5. parabens felipe...muito legal...
    e considero o Rick Martin um exemplo...

    um abraço..

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  6. Caramba, como pude esquecer de Ney Matogrosso! Desculpa, e valeu a lembrança, anônimo... ^.^

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POSTAGEM. Berto. Robersonn Jhones, NOGUEIRA.