sábado, 4 de dezembro de 2010

Borboletas infectadas usam substâncias de plantas para proteger sua prole

POSTAGEM. Berto. Robersonn Jhones, NOGUEIRA.

Ao ser infectada pelo protozoário O. elektroscirrha , o ciclo de vida da borboleta-monarca (Danaus plexippus) fica seriamente ameaçado. Mais fraca, com menos chances de se reproduzir e com menos tempo de vida, o animal entra numa luta contra o tempo para depositar seus ovos antes de morrer. Para piorar a situação, os ovos também podem ser infectados, o que levará ao nascimento de filhotes doentes, gerando um ciclo que faria a espécie, cada vez mais fraca e debilitada, desaparecer após algumas gerações. No entanto, como toda boa mãe, a borboleta não desiste de proteger suas crias e busca uma maneira de protegê-las do parasita.

Segundo uma pesquisa da Emory University, de Atlanta (Estados Unidos), publicada no periódico especializado Ecology Letters, quando é infectada pelo parasita, a borboleta-monarca lança mão de uma receita bem conhecida dos humanos: as plantas medicinais. De acordo com o estudo, sempre que estão doentes, as mães-borboletas preferem deixar seus ovos em duas espécies de serralha, um tipo de erva bem comum em terrenos baldios: a A. curassavica e a A. incarnata. O motivo da escolha são as substâncias conhecidas como cardenólidos, que atuam como antibióticos naturais contra o protozoário.

Essas substâncias protegem os ovos e fazem com que os filhotes fiquem imunes aos parasitas e nasçam saudáveis. “Animais infectados vivem menos do que as borboletas não infectadas, além de não serem tão férteis”, explica o autor do estudo, o pesquisador Thierry Lefevre, em entrevista ao Correio. Assim, para evitar que suas crias sofram esses efeitos, as borboletas-monarcas desenvolveram ao longo dos anos a pré-disposição de, ao serem infectadas, procurar as plantas que deixarão seus ovos protegidos. “A borboleta não ‘sabe’ que está infestada, como com um ser humano. Não há consciência envolvida no processo. É apenas um exemplo da evolução pela seleção natural”, explica o pesquisador norte-americano.

Ele conta que as borboletas saudáveis não demonstram interesse especial pelas serralhas, ao contrário das infectadas, que, em sua grande maioria, só deixam seus ovos na planta (veja ao lado). “Trata-se de um exemplo de plasticidade fenotípica adaptativa, que é a capacidade de um organismo de alterar seu fenótipo — ou seja, as características visíveis, como os hábitos de reprodução, por exemplo — em resposta a mudanças no seu hábitat”, completa Thierry.

A bióloga e coordenadora da curadoria de artrópodes do Zoológico de Brasília, Marlene Augusto, não se diz surpresa com a pesquisa americana. “As borboletas são muito seletivas no que diz respeito à reprodução. Elas só depositam seus ovos em plantas que servirão de alimento para a lagarta, evitando situações em que é preciso que ela se desloque para se alimentar depois de sair dos ovos”, conta. “Assim, se a borboleta escolhe uma planta com ação medicinal, certamente, quando a lagarta nascer, ela vai se alimentar dessa substância e continuar protegida”, afirma.

Remédios
Quem pensa que a descoberta se restringe apenas ao universo da curiosidade e não tem muitas aplicações práticas pode estar enganado, segundo explica o pesquisador do Laboratório de Ecologia Comportamental da Reprodução da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) Eduardo Bessa. “Entender como e por que os animais têm determinados comportamentos pode facilitar a entender melhor nossas relações com os animais. Com pesquisas como essas podemos aprender sobre o nível de consciência deles”, conta.

Outro aspecto apontado por Bessa diz respeito à conservação das espécies. “Entendendo seus hábitos, podemos agir de maneira mais objetiva em ações conservacionistas. É a velha história: conhecer para preservar”, afirma. “Além disso, uma pesquisa como essa pode servir de norte para outros estudos. Se entendermos que a borboleta usa uma planta específica quando está doente, podemos pesquisar essa planta e talvez descobrir remédios úteis ao ser humano”, completa.

Fonte: Este artigo é de Max Milliano Melo, publicado no Correio Braziliense (Ciência e Saúde) em 4 de dezembro de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que Provoca um DESMAIO ?

POSTAGEM. Berto. Robersonn Jhones, NOGUEIRA.